Conhecimento é aliado da
produção de carne de qualidade
Quando a marca de uma criação reúne a genética de qualidade oriunda de animais Nelore PO da região de Uberaba, a dedicação de um pecuarista que reconhece a importância do conhecimento na gestão do seu negócio e as terras de Itapirapuã, no cerrado goiano, tem-se a garantia de um produto especial e direcionado aos anseios do mercado.
Humberto de Freitas Tavares formou e firmou a marca Nelore Sucuri com diferenciais competitivos que começaram na sua origem. Engenheiro de formação e natural de Ribeirão Preto, chegou a Goiás no início da década de 80, e já em 1989 adquiriu a Fazenda Sucuri, que realizou seu primeiro leilão de fêmeas em maio passado, após 29 anos fazendo melhoramento e com alta taxa de retorno dos compradores de touros e genética.
Interessado em fazer uma criação com valor agregado, formou seu rebanho a partir de animais PO do plantel de seu pai em Uberaba, da Agro-Pecuária CFM e de alguns animais adquiridos nos leilões do IZ (Estação Experimental de Zootecnia de Sertãozinho) e na antiga Fazenda Mundo Novo, em Brotas (SP). Foi no IZ que se iniciou seu interesse pelo melhoramento: “sempre busquei informação técnica na fonte, e os pesquisadores de lá foram catalisadores deste processo já em 1987; quanto à CFM, foi uma das precursoras do melhoramento brasileiro, tanto que é detentora do CEIP no. 1, e lá eu tive a oportunidade de comprar fêmeas que deram contribuição muito importante para a base do rebanho”, explicou. Já o gado Lemgruber entrou desde o início, com a aquisição do reprodutor Akamun lá em Brotas.
Muito participativo em eventos do setor, especialmente naqueles voltados para a questão do melhoramento, considera que “viu nascer o Geneplus Embrapa” e, claro, foi uma das primeiras propriedades a aderir ao programa. Ele lembra que comprava touros no IZ e foi um dos pioneiros no seu uso em rebanhos de seleção. “Com as aquisições de Marel e depois Provador, fui muito feliz com esta linhagem na seleção PO”, conta.
Inquieto e sempre em busca de inovação para acompanhar as demandas do mercado, há cinco anos tomou conhecimento da DGT Brasil e do trabalho com ultrassonografia de carcaça. “Esse trabalho acrescentou bastante à nossa criação, pois em 2019 já teremos cinco safras no sistema, e os animais que o ultrassom identifica como superiores são, com raras exceções, o tipo de animal que busco” afirmou. Os dados passam por um processamento para gerar os índices Sucuri de carcaça. “Esta tecnologia própria e exclusiva está sendo implementada para selecionar nossos melhoradores das características AOL (área de olho de lombo), EGS (espessura de gordura subcutânea) e MAR (marmoreio)”, explicou. Os animais são classificados segundo os selos Ouro, Prata e Bronze. Os melhores machos têm seu sêmen coletado, e via de regra são disponibilizados ao mercado no leilão de Primavera. "Não tem este negócio de apaixonar pelo touro. Na próxima geração temos substitutos à altura ou melhores", brinca.
Mas como nada acontece por acaso, um pouco antes de implantar o programa da DGT começou a perceber uma mudança no perfil do comprador. “O comprador de touros começou a ficar mais técnico, menos preocupado com detalhes de beleza racial e mais interessado nas características de qualidade, algo que eu já estava fazendo intuitivamente”, esclareceu. Assim, quando testou a ferramenta de ultrassom, houve o que chamou de ‘convergência’ entre o mercado e o que já praticava. “Nunca abrindo mão, todavia, das características de funcionalidade, caracterização racial e bom desempenho (sem exageros, que prejudicariam a reprodução)”, ressalva.
Os acasalamentos que Tavares realiza buscam a perfeição funcional e a correção de eventuais deficiências na carcaça da matriz, mas sempre utilizando touros que se destaquem no seu intra-rebanho, e touros superiores no sumário Geneplus. “Não tenho como obsessão a maximização de índices. Quem levou isto ao extremo agora colhe frutos amargos. Como produtor de genética procuro equilibrar as características internas e externas” destaca, com a convicção de que sem o conhecimento não há melhoria. “Eu vivo isso no dia a dia, é a minha cachaça”, brinca.
Convicto de que o processo de melhoramento é constante, o pecuarista se baseia na máxima de que sempre é possível melhorar. “Nossa seleção já trouxe ótimos resultados para AOL, e já temos excelentes animais top em EGS e MAR, como Astreu, Joalheiro e Cíclico. Cada vez mais estamos fechando a seleção, dada a maior confiança que temos em nossos animais em relação aos de fora. A Sucuri já está amplamente reconhecida, até por produtores de genética, como fonte de sêmen e touros melhoradores. Na verdade, o ultrassom aponta para algo que nossos olhos já dizem. O mais importante é buscar informações e tecnologias para obter um resultado cada vez melhor e entregar o que o consumidor quer lá na ponta da cadeia”, analisou.
Empenhado em compartilhar conhecimento para fortalecer o mercado de produção de carne de qualidade, encabeça as atividades do grupo Confraria da Carcaça Nelore, que já conta com 60 membros, foi formado na rede social e formalizado no dia 8 de junho de 2018 em Cuiabá, MT. “Essa confraria reúne criadores de todo o Brasil, além de países da América Latina, para compartilhar conhecimento em torno do tema do melhoramento da carcaça. É crescente o número de criadores PO e comerciais interessados em produzir para atender a essa parcela importante do mercado de carne de qualidade”, afirmou.
Com o apoio total da esposa Lucileny e das filhas Julia e Helena, Humberto Tavares contou que em seu caminho pela melhoria da carcaça encontrou muitas pessoas que comungam dos mesmos ideais. “A formação da Confraria foi ocorrendo naturalmente, pois começamos com um pequeno grupo na rede social e neste encontro em Cuiabá pudemos dar mais um passo para o fortalecimento desse setor crescente da pecuária brasileira”, finalizou com entusiasmo.