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  • Foto do escritorPatrícia Eloísa Tormen

Objetivos e critérios de seleção

Neste episódio vamos discutir como definir os objetivos e critérios de seleção e dar início à “Temporada 1”, falando sobre as características reprodutivas: fatores de maior importância na fazenda.

A pergunta é: – Como definir objetivos e critérios de seleção para um rebanho bovino?

Para que possamos começar a responder essa pergunta, eu os convido a olhar, a observar seu próprio plantel e o ambiente de produção oferecido, incluindo infraestrutura e manejo alimentar. Olhando para isso tudo, elenque qual é o seu principal produto. Se for genética, a próxima pergunta será: – Quais os diferenciais de seus reprodutores no mercado?


Mas se seu rebanho for comercial, então seu principal produto é o bezerro, com você fazendo ciclo completo e entregando os animais diretamente no frigorífico. Nesse caso, em relação aos seus clientes e sua base de produção, a pergunta é se ela se dá de forma mais extensiva ou intensiva? A terminação se dá em regime de pasto ou em confinamento? E esses seus clientes? Eles estão procurando animais de ciclo curto e mais precoces no acabamento de gordura? Ou eles estão buscando também a carne de qualidade?


Logo, observar cada propriedade em termos dos ambientes de produção e quais os produtos serão ofertados ao mercado é essencial. No entanto, sempre precisamos entender que o objetivo final é a produção de carne. Isso significa que é vital para o negócio pecuário implantar modelos e estabelecer conceitos de seleção que visem atender o mercado em questão.


Definidos os seus objetivos de negócio, o passo seguinte é identificar os critérios seleção para os animais que nos levarão a alcançar esses objetivos. Em uma estratégia de acertos, um passo inicial é exatamente buscar as informações sobre o rebanho apenas daquelas características que a propriedade tenha plena condições de coletar.


Como existe uma gama de características a serem observadas e selecionadas, peço que acompanhem nossa jornada a cada edição, pois o conteúdo a ser passado ao leitor é vasto. Para ter uma ideia, são mais de 16 (média) características, nos principais programas de melhoramento genético existentes. Então, inicialmente...


Concentrando-se nas características reprodutivas


É preciso reforçar a importância delas para qualquer modelo produtivo, pois são as que mais impactam economicamente. Mais animais no rebanho por melhores índices reprodutivos, maior a lucratividade. Dentre as características ligadas às fêmeas, podemos destacar a Idade ao Primeiro Parto (IPP).


Falamos de uma característica fácil de ser medida. Basta anotar as datas de nascimento da fêmea e a de primeiro parto. Em edições anteriores, falamos que as características de reprodução – entre elas a IPP – dependem muito do meio ambiente; portanto, são de baixa herdabilidade.


Um ponto importante a se compreender é que os animais zebuínos, por terem maior longevidade produtiva, são mais tardios em termos de precocidade sexual, em relação aos taurinos. O início da puberdade está estritamente relacionado ao peso do animal que, por sua vez, é influenciado pelo sistema produtivo.


Ocorre que quando as novilhas estão expostas a um déficit nutricional, os picos hormonais ficam comprometidos, aumentando a idade do primeiro cio fértil. Já novilhas em sistemas tropicais com o aporte nutricional adequado podem apresentar cio fértil entre 12,3 e 15 meses de vida.


Nos sumários de melhoramento genéticos, as DEPs de IPP são apresentadas com valor negativo. Isso significa que um touro com DEP - 25 dias para esta característica está informando que, em média, suas filhas vão apresentar 25 dias menos na Idade de Primeiro Parto (IPP), em relação as filhas de outros reprodutores da mesma base genética do programa.


A IPP, quando utilizado como critério de seleção, traz bom retorno econômico ao produtor, porque possibilita maior intensidade de seleção, maior número de fêmeas disponíveis para a reprodução e menor intervalo entre as gerações do rebanho. Conforme já discutimos aqui, em edições anteriores, tal característica aumenta a velocidade de ganho genético do plantel.


Longevidade das fêmeas e implicações


Outra característica muito importante, mas com presença mais recente nos principais sumários é a Stayability. Trata-se de um número (DEP) que informa a habilidade da fêmea de permanecer produzindo (parindo uma cria por ano) no rebanho. Ao selecionarmos para esta característica, o que almejamos é aumentar a produtividade das fêmeas no nosso rebanho.


Em consequência disso, haverá um aumento do peso dos bezerros, visto que vacas multíparas tendem a desmamar bezerros mais pesados que as primíparas. No entanto, é preciso observar que em aumentando o tempo de permanência das matrizes no rebanho, automaticamente se reduzirá o número de novilhas na reposição e aumentará o intervalo entre gerações.


Uma maneira de manter o equilíbrio e continuar tendo um ganho genético anual na fazenda se dá por meio da utilização de touros jovens. Outro ponto a ser lembrado é a baixa acurácia da característica stayability, já que para mensurá-la é preciso de informações do máximo de filhas de um reprodutor por um período longo da sua vida adulta e reprodutiva. Nesse caso, escolher touros com avaliação genômica nos permite trabalhar com informações de maior acurácia, credibilidade.


Outros critérios para seleção de fêmeas podem ser utilizados, como Intervalo entre Partos (IP) – correspondente ao tempo entre uma parição e outra de uma mesma fêmea – ou de Dias para Parir (DP), que corresponde aos dias que a fêmea demora para parir desde a estação de monta até o parto. Essa característica ajuda a identificar as matrizes que emprenham mais cedo, na estação de monta. De qualquer forma, as duas características mais valorizadas nos sumários são IPP e Stay.


Perímetro Escrotal e suas implicações


Nos machos, a principal característica mensurada é o Perímetro Escrotal (PE), já que é de fácil medição, pois basta uma fita métrica específica em volta dos testículos. PE é um importante critério de seleção para se obter precocidade sexual, que é quando os machos começam a apresentar libido e ejaculação para emprenhar. Pelo mesmo critério obtém-se também fêmeas que apresentam cio fértil mais cedo.


O crescimento testicular, no caso da raça Nelore, acelera entre os 7 e 18 meses de idade, e decresce com o aumento da idade do animal. Por isso, nos principais programas de melhoramento, as mensurações são realizadas entre 365 dias e 550 dias de idade do bovino. Logo, a medição aos 365 dias determina a precocidade sexual; enquanto que aos 550 dias, a capacidade reprodutiva.


Nas várias fazendas que atendo no Norte do Brasil, tanto de raças zebuínas quanto de taurinas, começamos a mensurar o PE na desmama. Isso nos ajuda identificar, além dos animais mais precoces, aqueles que possam apresentar alguma deficiência no desenvolvimento testicular, no futuro. PE é uma característica de média a alta herdabilidade. Isso significa que ao selecionarmos para essa característica, ela se tornará cada vez mais presente no rebanho.


Relações e correlações


Um conceito importante que por várias vezes mencionaremos aqui é o da “correlação”. A correlação fenotípica mede a correlação dos valores observados para duas características. Já a correlação genética indica o quanto essas duas características são afetas pelos mesmos genes. PE, por exemplo, tem altas correlações com características produtivas e reprodutivas.


De forma mais direta, touros com maior PE podem imprimir na sua progênie maior probabilidade de parto precoce na sua progênie. PE também tem correlação positiva (favorável) com peso na desmama e peso no sobreano, indicando que a seleção para maior PE pode proporcionar maior peso em diferentes idades nos bovinos.


A DEP de PE é expressa em centímetros (cm). Se temos um reprodutor com DEP de 2cm para PE significa dizer que é esperado que seus filhos tenham um aumento médio de 2cm no PE observado, em relação à média do observado em outros touros da mesma base genética.


Vale sempre lembrar que um rebanho de alto desempenho reprodutivo, com maior precocidade sexual e maior longevidade produtiva de machos e fêmeas, tem maior disponibilidade de animais para seleção, sendo capaz de ofertar um maior número de produtos geneticamente superiores ao mercado.


*Patrícia Eloísa Tormen é zootecnista, melhorista de campo do programa de melhoramento Embrapa Geneplus e sócia-diretora da Grotão Agronegócios.

Ouça o podcast de Melhoramento Genético da Patrícia Eloísa Tormen, disponível no Spotify, Apple Podcast e Google Podcast.

Reportagem publicada na edição de maio de 2022 da revistanelore. Leia a edição completa AQUI.


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