O melhoramento genético de bovinos é uma importante ferramenta para aumentar a eficiência de produção e lucratividade da pecuária de corte por meio de princípios genéticos.
O principal objetivo é promover combinações genéticas favoráveis no rebanho, por meio da seleção e do acasalamento de touros e matrizes que possuam características genéticas de interesse e que serão herdadas pelas próximas gerações.
A Embrapa Gado de Corte, desde 1977, ano da sua fundação, atua em melhoramento genético de bovinos de corte, sendo pioneira junto à Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) na criação e lançamento de sumários nacionais de touros. No Brasil, existem diversos programas de melhoramento à disposição do pecuarista, entre eles: Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), Programa Embrapa de Melhoramento Genético de Bovinos de Corte (Geneplus), Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos desenvolvido pela ABCZ (PMGZ), Cia de Melhoramento, Programa de melhoramento Nelore Qualitas e Programa de melhoramento Delta Gen.
Evolução e amadurecimento são duas características do melhoramento genético, impulsionado pela criação de novas necessidades, características de interesse econômico e surgimento de novas tecnologias aliadas à reprodução e seleção genética. Associado a isso, existe forte preocupação com a sustentabilidade nos sistemas de produção. O Brasil assumiu importante compromisso durante a COP26, em Glasgow, na Escócia: junto a outros países, reduzir em 30% a emissão de metano até 2030.
As mudanças em busca dessa meta passam por várias mãos, não sendo somente de responsabilidade do pecuarista, mas também das empresas do ramo. No Brasil, estamos caminhando em uma direção positiva. Estudos mostram que o aumento da produtividade coincidiu com uma redução nas áreas de pastagens. Há, também, avanços na fertilidade do rebanho e do manejo sanitário. Todas estas tecnologias contribuíram para o aumento do ganho de peso dos animais e aumento da performance das propriedades.
Todos esses aspectos são fundamentais e precisam andar lado a lado com os avanços genéticos. Dados da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) mostram que há uma melhoria crescente da tendência genética para o Mérito Genético Total Econômico (MGTe). Trata-se de um índice importante para os melhoristas, porque é composto por algumas características de alto impacto econômico para os sistemas produtivos. Se os números melhoraram ao longo dos anos, denota que a seleção traz, cada vez mais, animais que geram mais receita ou maior valor econômico.
Porém, na lista de características que compõem este índice, preponderam àquelas associadas à produção, como peso e desempenho. O MGTe ainda não considerava no índice as características de eficiência alimentar, que ganharam forte relevância nos últimos anos, devido principalmente ao aumento dos custos com alimentação animal e a facilidade, por meio de tecnologias de monitoramento do animal, para geração de dados confiáveis que compõem o índice.
Por essa razão, em fevereiro de 2022, a ANCP incorporou o CAR (Consumo Alimentar Residual) e divulgou quatro novos índices bioeconômicos específicos para cada sistema de produção. A inclusão já era aguardada por criadores há muito tempo e foi muito bem recebida pelo mercado.
Avaliando o último sumário divulgado pela ANCP, vimos que dos animais que fazem parte do TOP 0,1% para MGTe, cerca de 64% tem DEP negativa para CAR. O que isso significa? Que após um trabalho de mais de 10 anos de levantamento de dados através das tecnologias Intergado, junto aos programas de seleção genética, aumentamos a oferta de animais eficientes para o mercado.
Os criadores e melhoristas que estão medindo e submetendo todos seus animais (machos e fêmeas) na prova de eficiência alimentar são os que mais têm avançado e entregado animais líderes no ranking do sumário, ou seja, aqueles que estão medindo de forma consistente são os que apresentam mais resultados.
Na pecuária, falar em sustentabilidade ambiental e econômica da produção implica pensar na eficiência alimentar, pois se apresenta como a solução mais viável por identificar dentre os animais de alta produção, aqueles que consomem menos e, portanto, têm menor custo de produção e menor emissão de metano. Por isso, a produção pecuária mais rentável e sustentável começa pelo animal.
No caso dos bovinos, é preciso procurar animais que já são de alta produção. Ou seja, selecionar um grupo de animais, submetê-lo a uma prova de eficiência, identificar os mais eficientes e levá-los para a pirâmide de multiplicação. Estes vão ter a mesma produção, mas gastando menos. Isso é fundamental, porque o custo alimentar tem crescido cada vez mais (82%, em 2019; 83%, em 2020; e 87%, em 2021, segundo pesquisa da GA+Intergado).
Nesse sentido, a característica de eficiência alimentar deixou de ser um diferencial e se tornou um pré-requisito para a seleção genética do rebanho. A substituição do rebanho comum por animais eficientes no aproveitamento de alimentos é um dos principais caminhos para atingirmos a meta.
Fato é que a eficiência alimentar é uma das saídas para o Brasil atingir a intensificação sustentável, aumentando a eficiência econômica do sistema. E todo mundo ganha com a prática: produtores, com redução dos custos de produção; consumidores, com maior segurança alimentar; animais, com maior bem-estar; e o planeta, com menores impactos ambientais na pecuária.
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