Carlos Viacava: Uma Luta de base pela boa carne Nelore
- Por revistanelore
- 2 de dez.
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Lá se vão quase quatro décadas desde que Carlos Viacava levantou a bandeira pela causa do Nelore produziu carne de excelência. E o quanto mudou!
Por Ivaris Júnior
Carlos Viacava, titular da marca CV Nelore Mocho, é um pecuarista que está na lida desde 1985. Muito comprometido com tudo que faz, acabou até militando pela atividade. Durante dois mandatos exerceu a presidência da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), tendo criado o programa da carne Nelore Natural.
Portanto, falamos de um dos pioneiros na raça a discutir qualidade de carne, propósito do qual nunca se afastou. Seu criatório se destaca pelo compromisso ambiental, adotando o sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) em suas fazendas — localizadas em Paulínia, Presidente Epitácio e Caiuá.

As propriedades ficam no interior de São Paulo — promovendo o uso eficiente dos recursos naturais e a recuperação de pastagens. Além disso, participa ativamente de pesquisas com instituições de ensino e dos principais programas de melhoramento genético, contribuindo para o avanço técnico e científico da pecuária nacional.
Nessa exclusiva à Revista Nelore, ele relembra os primeiros passos rumo à qualidade que a carne Nelore vem apresentando ao mercado brasileiro e internacional. A raça zebuína responde por mais de 70% do rebanho bovino nacional e deu ao País o papel de protagonista na exportação mundial de proteína vermelha.
Revista Nelore – Você foi presidente da ACNB e desde sempre pensou que a raça Nelore tinha de “melhorar a qualidade de sua carne” se quisesse ser competitiva. Por quê?
Carlos Viacava – Fazendo churrasco na fazenda, por volta de 1987, descobri que o Nelore jovem tem uma carne excelente, muito saborosa e que o mundo precisava saber disso. Fim de ano, pegamos um garrote do confinamento e fizemos a festa de Natal na Fazenda Campina. Na época o Brasil ainda era importador de carne.
Revista Nelore – E quais foram suas ações iniciais, no sentido de melhorar a carne da raça, lembrando que na época não existiam tantas ferramentas de melhoramento?
Carlos Viacava – Nós descobrimos que havia Nelore capaz de produzir carne de ótima qualidade. E aí fixamos aos parâmetros mais simples para uma carne boa: idade, peso mínimo e acabamento. Em 1998, veio a ideia: Nelore Natural com um selo da Associação (ACNB). Tem de ter até três anos, bom acabamento, ser alimentado em regime de pasto (o boi de capim) e tratado em confinamento por no máximo 120 dias. Também precisa ser Nelore ou anelorado, ou seja, cara de Nelore sem exigência de registro oficial de Nelore PO.

Revista Nelore – Diante de tantas raças taurinas que atendiam mais a essa questão de “qualidade de carne”, o que você pensou (cruzamento industrial etc.)?
Carlos Viacava – Pensei que uma seleção de Nelore bem conduzida pode produzir animais de carne de ótima qualidade, bem diferente do que encontrávamos nos nossos mercados por aqui. Tínhamos somente vaca velha, boi velho e de tudo que é raça indo para os frigoríficos. A nossa exportação era basicamente de carne processada, o famoso corned beef muito usado na guerra. O cruzamento industrial vendia a imagem de carne de qualidade e criticava o Nelore por ser bravio e de carne dura.
Revista Nelore – O que foi o SIC nessa trajetória? Gostaria que avaliasse aquele momento e sua aplicação, hoje!
Carlos Viacava – O SIC, Serviço de Informação da Carne, nasceu em 2001 e foi uma cópia fracassada do CIV (Centre d´Information des Viandes) vigente na França. Não colou, mas ajudou o trabalho de produzir um Nelore capaz de trazer uma carne de ótima qualidade e aceita em qualquer país do mundo.
Revista Nelore – A ACNB tem o programa “Circuito de Qualidade de Carcaça Nelore” que cresce ano a ano. Como você avalia esse trabalho?
Carlos Viacava – A ACNB tinha o apoio de criadores que permitiu o desenvolvimento de uma campanha a favor do consumo da carne Nelore. E aí começaram os concursos de qualidade do gado que ia para abate. O número de etapas cresce ano a ano e já foram para outros países. É como uma corrente do bem e o sucesso é inquestionável.

Revista Nelore – O Nelore vem ganhando em precocidade e desempenho, extraordinariamente, nas últimas duas décadas. Você pode fazer um paralelo em relação a qualidade de sua carne?
Carlos Viacava – Muita coisa aconteceu com nossa Pecuária desde que passou a adotar o melhoramento genético como ferramenta de seleção. Nossa carne melhorou muito de qualidade, com a participação de todas as raças. O melhoramento genético aplicado nelas, a melhoria da nutrição e os cuidados sanitários permitiram esse avanço extraordinário que tirou o Brasil da condição de importador para a de maior exportador de carne do mundo. E isso não é pouca coisa!
Revista Nelore – Existe, atualmente, inúmeros programas de qualidade de carne, inclusive, envolvendo a raça Nelore. Você poderia destacar alguns desses trabalhos?
Carlos Viacava – Existem muito programas de melhoramento genético e, sobretudo, a imperiosa necessidade de investir neles sob a pena de fracassar no melhoramento animal e sua lucratividade. Quem não se dedicar acaba tendo que vender a fazenda. Isso de pecuarista ir pescar e ficar deitado na rede, deixando o gado fazer fortuna para ele, acabou a tempo. Hoje é uma atividade de alto risco e muito competitiva. Então, quero dizer que temos de respeitar e admirar o trabalho do pecuarista sobrevivente e reconhecer também o trabalho de grandes frigoríficos brasileiros que batalharam para a conquista de mercados.
Revista Nelore – Para finalizar, no seu grande conhecimento, o que você poderia sugerir ou mesmo aconselhar, aos bons trabalhos realizados, pensando sempre em qualidade da carne Nelore?
Carlos Viacava – Melhoramos, conquistamos mercados e crescemos. Muito foi realizado, mas o progresso exige contínuos avanços na melhoria de qualidade e na busca por preços competitivos. E olha: o meio ambiente! Com cabeça fria e trabalho duro temos condições de aumentar a produção de carne com contribuição ambiental positiva, sem desmatamento, comente com intensificação da produção.



