A qualidade dos Bezerros do “Cedo” está diretamente ligada a nutrição fetal das vacas
Estamos entrando na “Estação de Monta” – período entre outubro e janeiro – decisivo para a criação de bovinos, pois é quando são realizadas as reproduções seja no método tradicional ou com inseminação artificial. Concentrar os nascimentos no início da estação de parição, o chamado “Bezerro do Cedo” traz inúmeras possibilidades, como, melhor crescimento e desempenho dos bezerros, facilidade de manejo e ganhos financeiros.
Quanto maior a quantidade de vacas prenhes no início da estação de monta mais bezerros nascerão nos primeiros meses da estação de parição.
“A preocupação do bezerro do cedo não é apenas para ele nascer no final da seca, onde tem melhora no manejo e no sistema sanitário, essa é uma verdade, porém o bezerro do cedo vai além do aspecto de manejo e sanidade dos animais, vai ao aspecto da nutrição fetal que este animal recebeu ao longo de sua gestação. Ele é o animal que irá deixar mais dinheiro na propriedade”, falou o médico veterinário e coordenador técnico da Divisão Bovinos de Corte do Grupo Matsuda, Julliano Percinoto Pompei.
Segundo Pompei, para que a vaca emprenhe logo no início da Estação de Monta entre outubro e novembro e consiga desenvolver um bezerro saudável é necessário que ela esteja com um escore corporal entre 3 a 4, pois se estiver entre 1 e 2, poderá apresentar ausência de cio (anestro) e se estiver com escore acima de 4 pode ter dificuldade de emprenhar.
Resumidamente, a nutrição do animal que impacta diretamente na condição física irá ditar se ela irá emprenhar com facilidade ou não. O bovino necessita ingerir entre 2 a 3% do seu peso corporal diariamente, portanto uma vaca de 430 kg precisa comer de 8 a 12 kg de matéria seca, vinda da pastagem ou em sua dieta total por dia. Isso, segundo o especialista, com o mínimo de 7% de proteína no alimento.
“O clima afeta diretamente na Estação de Monta: o déficit hídrico no ano passado foi um dos piores em 10 anos, estávamos em plena estação de monta e não choveu muito. Portanto há necessidade de buscar estratégias nutricionais para oferecer ao animal o suficiente para que esteja na Estação com um bom escore corporal”, destacou.
“É um erro falar que se a vaca não está boa agora emprenha depois, aí você joga a estação pra frente e perde dinheiro”, ressaltou Pompei. Nesta Estação de Monta que estamos entrando a probabilidade de ocorrer o fenômeno natural La Niña é de 70%.
O La Niña é um evento climático natural que ocorre no Oceano Pacífico, resfriando as suas águas e alterando a distribuição de calor e umidade em várias partes do globo, sendo que no Brasil pode trazer chuva para algumas regiões no Norte e Nordeste e estiagem para o Centro-Oeste, Sul e Sudeste, o que impacta diretamente na agricultura e pecuária.
“O clima nós não mudamos, temos que nos preparar. Hoje uma vaca precisa comer no mínimo 2% do seu peso e desse volume no mínimo 7% tem que ser proteína bruta além de energia, macro e micro minerais, isso significa que uma vaca de 420 kg precisa comer 580 gramas de proteína por dia. A sua vaca está comendo isso? Qual é a condição real de proteína da sua pastagem ou silagem?”, interrogou os telespectadores do webnário.
Em média as pastagens no período seco apresentam teores interiores a 5% de proteína, portanto com um déficit de 160 gramas de proteína, essa falta ela vai tirar provavelmente do desenvolvimento fetal ou da composição da própria carcaça. “Então ela começa a usar a proteína que tem de mais cara que é a dela mesma. Por isso a importância de fazer o uso de um proteinado para fechar a exigência dela, pois se ela está magra tenho que recuperar o escore corporal para ela adquirir reserva e então ciclar.
“Tem gente que vai falar que dar proteinado para vaca é caro e inviável, será? Quanto custa o quilo do bezerro? Ou um mês do arrendamento da terra?”, comentou Pompei.
Outro ponto importante destacado pelo médico veterinário, é que o desenvolvimento do feto irá impactar o bezerro ao longo da vida. Como, por exemplo, no quesito marmoreio - acumulo de gordura intramuscular na carne bovina – que é formado entre o 4º e o 5º mês de gestação.
“Má alimentação no primeiro e segundo terço de gestação reduz número e a massa de fibra muscular, quer dizer que se a minha vaca passar fome no começo e no meio da gestação vou ter uma redução da quantidade de fibra muscular. Se a vaca tem restrição alimentar, o bezerro será diretamente impactado. E a capacidade do bezerro crescer e ganhar peso está no último terço de gestação. E se a minha vaca passar fome isso fica limitado, é fisiologia, é da natureza, depois não adianta quando esse animal estiver com seus 22 meses colocar no confinamento, turbinar comida, tratamento de terminação, etc, ele não recompensa a falta do Start de seu marmoreio, perdida em sua gestão”, explicou Pompei.
“Portanto, a programação fetal ocorre nos primeiros meses do animal, dentro da barriga da vaca. Todo o seu desenvolvimento e a sua facilidade para engorda são definidos enquanto o bezerro ainda é um feto”.
Segundo Pompei uma vaca bem nutrida é um animal que trará lucro para a propriedade. A vaca precisa de cerca de 45 dias para a regressão uterina ou seja para o útero voltar ao tamanho normal após o parto, a partir disso ela está fisiologicamente apta a emprenhar novamente. O razoável é ela emprenhar em 60 dias após a regressão uterina, o que leva em torno de 100 dias para a geração do novo bezerro, o chamado de “Contrato de 100 dias”.
“Vou utilizar um provérbio chinês muito usado pelo amigo Fernando Carvalho: ‘Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier’. A parte climática nós não dominamos, mas se estivermos preparados o que vier você vai encarar e superar. O Brasil é um país maravilhoso, basta a gente aprender a trabalhar, se programar, planejar e sempre anteceder as ações. O grupo Matsuda é um farol para os nossos amigos produtores rurais e sempre estamos a disposição”, finalizou.
O assunto foi apresentado durante o “Webinário - Mais bezerros do cedo”, apresentado pelo médico veterinário. Confira o webinário completo no link.
Reportagem publicada na edição de novembro de 2021 da revistanelore. Leia a edição completa AQUI.
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