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  • Renata Erler

Compra de animais: Quais variáveis eu devo considerar?


A ação de compra de animais de reposição está no dia-a-dia de qualquer fazenda, sendo uma operação mais intensiva nas fazendas de recria e engorda devido o maior giro, o que exige grande atenção, pois em confinamento por exemplo, o animal de reposição representa de 60% a 70% do custo total, sendo o principal insumo da atividade de engorda.


Com esse grande impacto na composição do custo, fica clara a importância de uma boa compra, o que não significa o preço mais baixo, pois outros fatores afetam a equação do resultado, e é sobre isso que trataremos nesse artigo.


Conhecendo o custo


Para entender se o preço a ser pago para que um animal entre na sua operação é importante conhecer seu custo de produção, pois o preço será apenas mais um componente desse custo.


Para melhor entendimento, caso você compre um animal de 14@ para o confinamento no valor de R$ 4.200,00 (R$ 300,00/@), com objetivo de vender com 20@ pelo valor de R$320,00, são 6@ a serem colocadas num período de 120 dias.


A priori parece um excelente negócio, pois vai valorizar as 14@ que você comprou, além das 6@ que terá que colocar, porém, com uma diária de R$ 25,00, o custo por animal no período seria de R$ 3000,00 que somado ao custo de compra totaliza R$ 7.200. Você vai faturar na venda desse boi R$ 6.400,00, ou seja, um prejuízo por boi de R$ 800,00.


Esse exemplo apenas demonstra que o primeiro passo é conhecer o custo, pois sem ele, no exemplo acima teríamos a impressão de lucro por causa do deságio, e poderíamos tomar a decisão de seguir rumo ao prejuízo, portanto, conheça seu custo.


A categoria animal, o padrão racial e estratégia de dieta


A ciência nos mostra que animais de categorias diferentes possuem curva de crescimento distintas, e como podem observar no gráfico 1, onde temos nos eixos a relação de peso e idade, vemos que o maior crescimento ocorre entre B e C, e começa a diminuir o ritmo no D, ou seja, do nascimento a puberdade.


De acordo com PEIXOTO (1993), o período pré-puberdade, do nascimento a desmama, é o mais importante da vida do animal, pois o bezerro consegue atingir cerca de 25% a 50% do seu peso final de abate, ou seja, bovinos jovens apresentam melhor conversão alimentar, o que reflete positivamente na rentabilidade de operações de cria e recria de machos e fêmeas.


O principal ponto de atenção que determina essa diferença entre 25% a 50% do seu peso final de abate, é a estratégia nutricional trabalhada nessa fase, e essa informação é importante para quem compra esse bezerro, pois de acordo com nível de suplementação, teremos diferenças na composição de carcaça, ganho de peso diário, ritmo de crescimento, o que vai apontar qual será a melhor estratégia futura para esses animais.


De acordo com PEIXOTO (1993), o período pré-puberdade, do nascimento a desmama, é o mais importante da vida do animal, pois o bezerro consegue atingir cerca de 25% a 50% do seu peso final de abate, ou seja, bovinos jovens apresentam melhor conversão alimentar, o que reflete positivamente na rentabilidade de operações de cria e recria de machos e fêmeas.


O principal ponto de atenção que determina essa diferença entre 25% a 50% do seu peso final de abate, é a estratégia nutricional trabalhada nessa fase, e essa informação é importante para quem compra esse bezerro, pois de acordo com nível de suplementação, teremos diferenças na composição de carcaça, ganho de peso diário, ritmo de crescimento, o que vai apontar qual será a melhor estratégia futura para esses animais.


Observem o gráfico 2. Onde temos demonstrado as curvas de desenvolvimento de cada tecido corporal seguindo a linha do tempo, considerando que no gráfico A temos uma alimentação para desenvolvimento rápido e no gráfico B temos uma alimentação para desenvolvimento lento, onde ambos mantem a mesma sequência, apesar da taxa de crescimento ser diferente. Isso significa que mesmo bem suplementado, a deposição de um tecido não sobrepõe o outro, mas muda a composição da carcaça na linha do tempo.



Isso tudo para dizer que a estratégia alimentar utilizada até o momento da compra, interfere diretamente no potencial de entrega e qualidade de carcaça do animal, e essa informação é fundamental para determinar qual será a estratégia futura que melhor te remunera e qual tipo de carcaça você quer entregar ao frigorifico.


Quanto ao grupo racial, sabemos que existem particularidades e diferentes desempenhos de acordo com a raça e cruzamentos. Na tabela abaixo segue resultado de um compilado de 14 anos de trabalho da IAPAR em Paranavaí, publicado por Cubas et al (2001) e Perotto et al (2001), onde foram avaliadas características de desempenho como peso ao nascimento (PN), peso ao desmame (PD), ganho médio diário do nascimento ao desmame (GMD-ND), ganho de peso da desmama aos 12 meses (GMD-12) e peso aos 12 meses (P-12).


Comparação entre machos e fêmeas dos diferentes grupos genéticos.

Percebam a diferença de GMD até os 12 meses dos diferentes grupos, destacando os cruzamentos zebu x europeu, deixando claro o impacto da heterose sanguínea.

É preciso chamar a atenção também para a diferença de peso ao nascimento e peso ao desmame entre machos e fêmeas causado pelo dismorfismo sexual, destacando a fêmea Red-angus/Nelore deixando clara a precocidade desse cruzamento.


Portanto, considerando tudo que foi dito, e tendo um objetivo definido, escolha qual é o animal que você quer ter na sua fazenda.


O impacto da distância percorrida até a sua fazenda


Um estudo realizado nos Estados Unidos (PDF) Factors affecting body weight loss during commercial long haul transport of cattle in North America (researchgate.net), mostrou que durante o transporte rodoviário, bovinos podem perder cerca de 1% do peso por hora durante as primeiras 3 a 4 horas de viagem, e 0,25% do peso por hora nas próximas 8 a 10 horas de viagem.


Aqui no Brasil as perdas de peso por transporte estão estimadas entre 8% e 10% para viagens acima de 8 horas, um pouco acima do estudo americano, o que é justificado pela condição pior de nossas rodovias e estradas.


Sabemos que a perda nas primeiras horas será de conteúdo gastrointestinal, seguida por desidratação, facilmente resolvido, porém em viagens acima de 600 km onde não se consegue estimar o tempo de viagem corretamente, pode haver perda de carcaça, e nesse caso o animal vai demorar mais para se recuperar e entrar no ritmo da fazenda.


É importante levar a distância do transporte em consideração por causa das perdas e pelo valor do frete que normalmente é cobrado por quilometro rodado e somado as perdas pode inviabilizar uma compra caso a distância seja longa.


A taxa de lotação


Taxa de lotação muitas vezes não é considerada no momento de uma compra, e com isso, o que pode parecer boa oportunidade de negócio pode se transformar em grande problema, iniciando um processo de degradação da fazenda.


A taxa de lotação se refere ao peso total de animais que você pode ter em uma determinada área, ou seja, trata-se de peso, e não número de cabeças, e leva em consideração a produção de capim.


Conhecendo a taxa de lotação você saberá exatamente quantos animais (com peso determinado) você poderá comprar, de forma a ocupar a fazenda de forma correta, garantindo eficiência na colheita do seu pasto e evitando a degradação.


A análise de mercado


Analisar o momento do ciclo pecuário com a base de preço atual e tendência da curva de preço para o futuro será importante para que antes mesmo de comprar, você consiga fazer uma projeção da venda estabelecendo uma meta de margem, o que somado a todas as outras informações, te trará um apontamento de quanto você pode pagar pela sua reposição.


Para isso escolha um analista para referência, avalie projeção da B3, traga para a realidade da região que sua fazenda está inserida e tome sua decisão.


Conclusão


Considerando esses cinco fatores fundamentais, custo de produção, categoria animal, distância da fazenda, taxa de lotação e mercado, você estará fechando uma equação importante e se livrando das decisões enviesadas, pois saberá exatamente qual animal, qual preço e qual período comprar, identificando de acordo com os dados da sua fazenda, qual é a melhor oportunidade para você.


*Renata Erler é zootecnista, MBA Gestão do Agronegócio (USP/Esalq) e consultora em pecuária.

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