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  • Foto do escritorPatrícia Eloísa Tormen

O progresso genético do rebanho

O ganho genético é conquistado por uma equação básica que, quando bem compreendida, a consequência é o sucesso no melhoramento animal, em termos zootécnicos e de produtividade.

Quanto maior a intensidade de seleção, maior o ganho genético a ser promovido.

Logo é importante o domínio de conceitos como a herdabilidade, diferença esperada de progênie (DEP), percentil ou deca, além de outros. Indo direto ao assunto, dentro da fórmula do ganho genético, temos a intensidade de seleção.


Então, devemos nos perguntar qual percentual do total de animais avaliados do rebanho que podem ser selecionados como superiores para serem utilizados como pais das futuras gerações. No caso dos machos, se classificarmos 5% dos 1 mil disponíveis, a intensidade de seleção será maior do que se escolhidos 10%.


Deve-se saber que quanto maior a intensidade de seleção, maior o ganho genético a ser promovido. Esse vigor, criterioso e objetivo para machos e fêmeas ocorre de forma diferente, visto que uma menor quantidade de touros é necessária para reprodução.


O Certificado Especial de Identificação e Produção (CEIP) emitido pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) ocorre de forma muito criteriosa. Inicialmente, de um determinado criatório, apenas 20% de machos e fêmeas mais bem-avaliados e sem defeitos desclassificantes de cada safra recebem este certificado.


Já a acurácia é a medida da correlação do valor genético estimado e o valor genético real. O valor genético estimado deriva de informações do indivíduo colhidas até o momento, como dados dos pais (pedigree), desempenho individual durante sua vida, avaliação genômica e ainda, desempenho médio dos filhos (testes de progênie).


Quanto mais próxima a informação disponível daquela definida no seu valor genético, maior será a acurácia, número que indica a magnitude das DEPs que podem ocorrer (se repetir) na medida em que se aumenta o volume de informações coletadas dos animais.


Então é preciso ainda compreender o que é herdabilidade e como ela funciona no processo de melhoramento. Ao pé da letra, herdabilidade é quanto se pode estimar sobre uma determinada característica ao ser passada de uma geração para outra. Mas saiba que existem diferentes herdabilidades para diferentes características zootécnicas, sejam elas morfológicas ou qualitativas.


Existem características que possuem menor interferência do meio ambiente; portanto, são facilmente herdáveis. Um exemplo notório é a pelagem do animal. Independente de qual ambiente o animal esteja, sua pelagem terá sua coloração determinada pela herança genética de seus ascendentes.


Outras características como as produtivas e de desenvolvimento terão uma razoável interferência do meio ambiente (oferta nutricional, de conforto e sanidade). Logo, essas manifestações apresentarão herdabilidade moderada. Exemplos clássicos são peso no desmame ou no sobreano.


Sem mexer em nada, sempre é possível selecionar animais superiores para estas características de uma geração para outra. No entanto, caso seja possível melhorar o ambiente, os ganhos serão maiores, mais claros e efetivos.


As características reprodutivas e de adaptabilidade possuem forte influência do meio ambiente, logo são de baixa herdabilidade. Elas são de maior peso econômico na bovinocultura, enquanto negócio. Assim, melhorar o ambiente, as condições de criação determinam a velocidade do ganho genético do rebanho destas características em específico. No entanto, é importante observar que selecionar para características reprodutivas e adaptação, apesar de terem ganho genético menor, são extremamente importantes a longo prazo.


O próximo conceito é o da variabilidade genética. Na matemática, ela é sinônimo de desvio padrão dos valores genéticos aditivos diretos dos animais. Ela é específica para cada característica. Quanto maior a variabilidade, maior a taxa anual de ganho.


Na prática, a variabilidade funciona com o controle de consanguinidade, redução do descarte involuntário, do vigor genético (principalmente por características reprodutivas e adaptação) e dos defeitos causados por homozigose.


Em um programa de melhoramento genético, por meio de software, é possível evitar acasalamentos com alta consanguinidade, e aliando isso a avaliação visual, promover acasalamentos corretivos por fenótipo. O objetivo é evitar de cruzar animais com os mesmos problemas. Os mesmos softwares ainda permitem estimar DEPs mínimas para os futuros embriões.


Um exemplo possível de se citar é um caso de um rebanho de matrizes, onde o produtor definiu 1 touro para a IA e outros 2 para a monta natural. Ocorreu que ao passar pelo processo de seleção nas crias, não havia variabilidade; ou seja, tinha-se mais do mesmo.

Isso significa que não avançamos. Logo, o que temos de ter em mente é aumentar as opções: a variabilidade genética. No caso citado, aumentando a variabilidade genética dos touros envolvidos, dentro da mesma estação de monta, sem comprometer os objetivos (as correções almejadas) dos acasalamentos.


O próximo componente da fórmula de ganho genético é o intervalo de gerações. Falamos aqui da idade média dos pais em relação a seus filhos. É sabido que quanto menor esse intervalo, maior o ganho genético. De forma objetiva se o programa de melhoramento na sua fazenda está sendo bem conduzido, as gerações mais novas serão melhores que as anteriores.


Isso significa que selecionar animais mais jovens para trabalhar o rebanho vai acelerar sua evolução genética. Nesse sentido, a genômica tem se mostrado uma ferramenta muito efetiva na valorização de bovinos jovens melhoradores.


Pelas DEPs, a acurácia vem com as gerações de filhos. Com a genômica – identificação de genes responsáveis por determinadas características – a acurácia aumenta em curto espaço de tempo. Ela aumenta sobremaneira a consistência na hora de utilizarmos indivíduos jovens na seleção do rebanho, sempre aumentando a taxa de ganho anual.


Finalizando, é preciso compreender melhor a sigla DEP. Essa tal de Diferença Esperada de Progênie é um número que procura comparar a diferença do desempenho médio da progênie de um touro com a de um outro grupo de reprodutores, quando acasalados com fêmeas semelhantes.


As DEPs são avaliadas de forma individual para cada característica. Então, quando observamos uma determinada DEP estamos olhando o desvio padrão daquele animal em relação a toda a base genética do programa de melhoramento, em questão.

Se escolhemos um touro com peso na desmama de 9kg de DEP, em média, quando acasalados com suas fêmeas, esperamos que suas crias vão apresentar 9kg de peso a mais que as de outros reprodutores envolvidos nessa base de dados.

Ao criador participante de um programa são informadas todas as DEPs de todos os animais avaliados no seu rebanho, machos e fêmeas. Falamos de números que mostram características reprodutivas, de desempenho, conformação, carcaça e eficiência alimentar.

São elas, juntamente com as avaliações visuais, que deverão determinar a utilização de indivíduos na sequência dos acasalamentos, visando sempre melhorar. Aí entra a acurácia, um número que vai orientar a intensidade de uso dos animais selecionados nesse processo.


Em todo sumário tem-se as DEPs, a acurácia individual e também os índices, que tem o objetivo de agregar um único valor ao todo observado. Eles são responsáveis por predizer os animais que entregarão os maiores valores genéticos.


Ocorre que esses índices são diferentes entre os vários programas de melhoramento genético, sendo compostos por percentuais (pesos) de características com maior interesse econômico. Alguns programas trabalham com índices, outros com deca. E como observá-los?


Nos índices, os animais são ranqueados de top 0,1 a 100%. Quando dizemos que um animal é top 0,1% estamos dizendo que é o melhor dentre 1000 animais. Se observamos um top 1%, significa, que está entre os 10 melhores indivíduos, dentre os 1000 animais da base de dados do programa de melhoramento.


Já na observação por deca, eles estarão organizados em dez grupos, sendo o deca 1 o que reúne os 10% melhores desempenhos; e o deca 10, os 10% piores em desempenho. O objetivo aqui é agregar um número maior de animais com desempenho similar.


Falado tudo isso dá para reforçar que a seleção genética por meio das ferramentas e conceitos aqui apresentados é um caminho bastante seguro se observado o devido rigor na gestão. É ela, levada pelo pecuarista, técnicos e equipe de campo, quem vai determinar o sucesso e a rapidez do melhoramento. Então, vem o ganho genético anual e a lucratividade.


*Patrícia Eloísa Tormen é zootecnista, melhorista de campo do programa de melhoramento Embrapa Geneplus e sócia-diretora da Grotão Agronegócios.

Reportagem publicada na edição de abril de 2022 da revistanelore. Leia a edição completa AQUI.

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