Da malharia à uma das criadoras mais respeitadas do país. Mônica Marchett viu no Nelore muito mais que um trabalho, mas sim uma verdadeira paixão de vida.
O ano era 1986, Mônica, que até então atuava na área têxtil, decidiu trocar o Rio Grande do Sul por Mato Grosso. Esse era o pontapé para uma história de amor e dedicação à seleção da raça nelore. Ao entrar em contato com o gado da fazenda do pai, Sérgio Marchett, Mônica se encantou por aquele animal robusto e branco, em especial, uma rês que possuía uma curiosa marca em formato de caranguejo na face. Ao perguntar para o peão do que se tratava tal marca, teve a resposta – esse é gado PO. Até então sem saber o que significava, Mônica foi atrás de entender um pouco mais sobre aquela sigla. Descobriu que era uma vaca de raça pura e que teria um valor muito maior. Começava aí sua imersão no mundo da pecuária que a levaria por uma trajetória de grandes conquistas na raça.
Iniciar na seleção de nelore trouxe muitos desafios superados um a um. Da dificuldade em encontrar as documentações e registros dos animais, até adquirir conhecimento sobre a raça que estava em franca expansão à época. Visionária e com o objetivo claro de imprimir a sua marca na história do nelore, Mônica sentiu a necessidade de se especializar no assunto e foi fazer o curso de juíza de pista da ABCZ em Uberaba. Com esse conhecimento em mãos, a capacidade de identificar matrizes e reprodutores se tornaria mais ágil e assertiva para o sucesso de seu plantel.
Dito e feito! Com o olhar técnico e apurado, Mônica passou a realizar acasalamentos dirigidos preconizando as características raciais, a habilidade materna e a precocidade da raça. Assim, seus animais começaram a se destacar no cenário do nelore nacional. Desde o começo, Mônica Marchett sempre teve ao seu lado grandes selecionadores. Nomes como Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges, Luís Sérgio Amaral, Pankowski e Carlos Alberto de Souza Celestino foram alguns dos acasaladores que mostraram para a criadora os caminhos a serem seguidos. Outra pessoa que a incentivou desde o começo foi o criador Jonas Barcellos da Fazenda Mata Velha. É de seu plantel os primeiros touros adquiridos por ela na década de 90.
Com a seleção a todo vapor, Mônica começou a colecionar feitos históricos como criadora, algo tão almejado por todos aqueles que dedicam seu tempo à seleção genética de uma raça. Entre eles, os leilões à campo, realizados na fazenda Mônica, a consagração da genética da vaca Fabella da MFC com dois filhos premiados em pista – um touro padrão e outro mocho, e do respeito como uma das grandes selecionadoras do país. Além dessa matriz, a Fazenda Mônica colocou no mercado a genética de Copacabana da Mônica, filha direta da grande matriarca Espanhola da J. Galera, Eclusa da Mônica, grande doadora que foi servir o plantel de Jonas Barcellos.
Toda essa trajetória rendeu à criadora mais do que destaque no cenário nacional da raça nelore. Trouxe também relacionamentos importantes e uma troca de experiências que só é possível através do reconhecimento de um sério trabalho dentro das porteiras. “Nessa minha trajetória no nelore, encontrei mais do que criadores, conquistei amigos verdadeiros. Ter a oportunidade de trocar experiência com grandes baluartes da raça, me fez enxergar o que faço não como um trabalho, mas sim, algo que me gratifica muito. Selecionar a raça, é um projeto concretizado, é um prazer, é minha verdadeira paixão de vida”, diz a criadora.
Uma dupla de resultados
Mônica acredita que os novos tempos trazem novos desafios e está preparada para eles. E para seguir evoluindo seu plantel a cada ano, entra em cena seu filho Pedro Marchett. Jovem e com o olhar tão apurado quanto o da mãe, essa dupla está revolucionando a forma de criar gado com responsabilidade e de olho na sustentabilidade. Para ambos, falar de pecuária hoje é ter o olhar no futuro, nas possibilidades de produzir mais, em menos tempo e se preocupar em como reduzir, ao máximo, o impacto ambiental.
“Não há mais como pensar em pecuária sem ter o olhar voltado para as questões ambientais. É impossível pensar em escalabilidade de produção sem implantar manejo sustentável. Nossa ideia, que já está ganhando resultados na prática, é criar a agropecuária florestal com a diminuição gradativa de herbicidas e fertilizantes e integrar gado e áreas agrícolas. Assim, ganha o mercado, ganha a população como um todo, e ganha o meio ambiente”, comenta Pedro.
Hoje, os criadores tem um compromisso com a redução do impacto ambiental da atividade rural. A sustentabilidade é um vetor em todos os setores econômicos globais e não poderia ser diferente nesse segmento. Fatores como redução de emissão de carbono na atmosfera, recuperação de áreas de florestas, implantação de manejo sustentável nas propriedades, dentre tantas outras ações que são fundamentais na atualidade.
Para os criadores Mônica e Pedro, é inegável que é preciso trabalhar arduamente para reduzir os impactos dos danos causados no meio ambiente que se reflete na sociedade como um todo. E para isso, a tecnologia no campo se torna a grande aliada trazendo soluções para aumentar a produção, proporcionando rentabilidade ao criador.
“Dentro da Fazenda Mônica, trabalhamos com os mais diversos tipos de tecnologias, desde a parte reprodutiva e de seleção genética do rebanho até as práticas relacionadas ao bem estar tanto animal, quanto de nossos colaboradores. É fundamental ter um ambiente saudável e receptivo para que as pessoas possam desenvolver suas habilidades”, relata Mônica.
Segundo a criadora, cuidar das pessoas que trabalham na fazenda é educar o futuro. E, para isso, recentemente está em curso na fazenda um projeto de transformar a Fazenda Mônica em modelo de sustentabilidade nos moldes ESG – Sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança. Para eles, esses são os três pilares que vão sustentar qualquer tipo de negócio, e, no agro não poderia ser diferente.
Dentre as ações estão os cursos profissionalizantes e atualização para os funcionários, escola para as crianças, além da implantação da ILPF. “São as crianças de hoje que vão assumir nossas posições lá na frente. Por isso, a cultura e a educação são fundamentais para que elas cresçam respeitando a terra, os animais e entender que é deles que tiramos nosso sustento. Crianças bem esclarecidas, se tornam adultos conscientes”, revela a criadora.
Já Pedro vê nesse projeto, que deve ser concluído nos próximos anos, uma oportunidade de transformar a realidade de toda uma geração impactando positivamente na sociedade como um todo. “Acreditamos que, de nada adianta, ter boas práticas de manejo sustentável, sem atuar também na governança e enxergar a fazenda como um negócio que precisa de gestão, orientação e visão de futuro com metas bem definidas”.
Assim como a realização de sistemas de integração lavoura, pecuária e floresta, Pedro diz que também estão focados na recuperação de solo e pastagens através da redução de defensivos e outras metodologias para atingir os resultados planejados.
“Temos a clara visão que a aplicação maciça das tecnologias agrícolas, uso de biológicos, e criação em sistema de pastagens intensivas e rotacionadas são ferramentas que precisam ser aplicadas e que podem contribuir para a microbiologia do solo, aumentando matéria orgânica, melhorando a estrutura do solo e, consequentemente, alavancando a produção e rentabilidade do negócio”.
O cenário ideal
Ao falar em realidades e projeções para a pecuária nacional, Mônica e Pedro acreditam que o cenário é extremamente positivo para o segmento. A expectativa de crescimento superou nesses últimos dois anos gerando recordes de volume e receita. “Claramente, podemos dizer que, com a arroba em alta, a pecuária de corte está em um bom momento”, diz Mônica. Mas Pedro ressalta que com a alta das commodities, cresce também o desafio dos criadores em serem mais eficientes ao engordar seu rebanho. “Nosso desafio é produzir gado eficiente em sua alimentação para atender à demanda mundial por alimentos”.
E ainda, quando se fala em mercado atual, Mônica acredita que hoje uma das maiores responsabilidades dos selecionadores é produzir um gado com alta habilidade de conversão alimentar, principalmente à pasto. “Essa é a realidade da pecuária brasileira e, por isso, é fundamental ter sempre no rebanho animais rústicos e eficientes que atendam não só a exigência das pistas, como também do mercado”, ressalta Mônica.
E, para atingir esses objetivos, a precocidade do rebanho é de extrema importância. Acelerar o ciclo reprodutivo do animal, tanto sexual quanto de abate se torna a premissa da seleção do rebanho. Um dos motivos para os criadores se concentrarem nesses quesitos é a crescente demanda do mercado que vem chamando a atenção de outros países.
“O mercado internacional está de olho em tudo o que produzimos, inclusive na nossa genética. Acredito que esse interesse está diretamente ligado à nossa capacidade de produzir animais com fenótipo, padronização de carcaça e precocidade”, fala Pedro.
O criador também ressalta que a alimentação possui influência nesse quesito, sendo importante selecionar animais com alta conversão de carne a pasto padronizando assim a genética do rebanho em um alto patamar produtivo.
“Um animal eficiente, que engorda a pasto, também será eficiente em um sistema de confinamento, consumindo grãos, já o inverso nem sempre é válido”.
Recentemente o Brasil se tornou um dos grandes exportadores mundiais de carne bovina. Isso se deve ao trabalho de selecionadores que contribuíram para que o país se tornasse referência mundial em seleção e exportação de genética de gado tropical.
A partir desse resultado é possível compreender o quanto a importância da pressão de seleção do rebanho nacional aumentou para suprir esse mercado internacional. “Mas isso só será possível com a criação de animais mais eficientes e que sejam mais rentáveis tanto para os grandes, quanto para os pequenos produtores, que igualmente sofreram com a alta das commodities e a consequente diminuição na suplementação de grãos do rebanho”, completa.
Genética à toda prova
Quando o assunto é a genética da Fazenda Mônica, os mais recentes resultados comprovam o trabalho dos selecionadores.
Dois touros do plantel foram contratados para duas grandes centrais de reprodução. Vale mencionar que ambos touros nasceram do ventre de uma das principais doadoras mocha, a Jamine da Mônica, sendo Aramis e Bahadur meios irmãos.
Bahadur da Mônica, com 22 meses, filho de Bronze Camparino e Janine da Mônica está na CRV e tem em seu currículo os campeonatos de modelo frigorífico, júnior maior e o grande campeão da Expozebu 2022.
Já Aramis da Mônica, foi contratado pela Alta Genetics com apenas 15 meses. Filho de Rafi de Naviraí com Jamine da Mônica. Ambos touros tem uma longa vida reprodutiva pela frente levando a genética da Fazenda Mônica para os criadores que desejam implantar genética de qualidade em seus rebanhos.
Reportagem publicada na edição de julho de 2022 da revistanelore. Leia a edição completa AQUI.
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